terça-feira, 27 de outubro de 2009

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... e do nada virou para o outro sofá, procurando alguém para comentar aquela cena engraçada que tanto o fazia rir. Era um hábito comentar as melhores cenas de tudo o que passasse na televisão. Mas, para a tristeza do momento, o sofá estava vazio.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

26

Da varanda térrea do sobrado na avenida acima da minha, D. Joana via tudo. Tudo o que passava, o dia todo. E não era pouca coisa. Soube que na época que a avenida era rua e D.Joana era moça e não era dona de nada, nem de si, havia um rapaz. Sim, um rapaz que todo dia lá perto da varanda passava com caixas. Da feira. E Joana olhava, amava, suspirava e quando não o via, chorava, peito chiava, soluço uivava.
Começaram a namorar, ela da varanda, ele da calçada. Ela não descia, ele não subia. E namoro havia.
Um dia a graça acabou. O rapaz, de tanta caixa carregar, encaixotado acabou. Joana logo com o dono da cartório se casou. A mãe morreu. Marido mudou. Virou D. Joana e com sua varanda, olhando a rua, lá ficou.

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- Por você mantenho meu outro eu. M'eu aventureiro que corre riscos e rabiscos. Subindo prédios, caçando o sol, colorindo o céu. Rabiscando mesmo. Por você eu concedo à esse outro eu, o poder, dever e direito de ser eu sempre que você quiser. M'eu calmo quiçá lento preguiçosamente dorme nos seus braços desconfortavelmente em qualquer posição ou na fila de qualquer pão. Mas m'eu é seu e não meu.
- Vamos tomar café?