sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

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Uma máquina de cola quente talvez pudesse resolver essas querelas que me atormentam. Te colaria numa cadeira e faria coisas não ortodoxas com você. Te contaria toda a minha vida, atuando, fazendo drama, adaptando, incluindo você me cada parágrafo. Colando você à ela, minha vida. Falaria do meu mundo, do meu submundo e de como você é importante nisso, nesse meio termo, nesse entremundos. Escuta! Ainda estou falando.

Cola quente não parece suficiente então. Quero uma fita adesiva bem poderosa, para colar seus lábios. Assim você só escuta, todas as minhas desventuras, aventuras, loucuras e outras coisas aumentadas por mim com o intuito de atormentar você. Me ouve. Não me olha nos olhos. Só me veja atuando, passando para lá e para cá na frente da sua cadeira. Entendeu? Vou falar mais alto. Entendeu agora?

Não se faça de vítima. Vítima sou eu. Continuo meu ato, matando o meu eu em cada cena nova. E você assustado não crê. Crê na loucura que eu faço. Mas não crê em mim. É tudo verdade, não tá vendo? Você me deixa louco, nunca prendi ninguém assim. Não me atormente. É a minha natureza, não sou humano. Sou a personificação de tudo o que você queria. E agora que não quer mais, vai me ouvir.

Gritar como? Está atado esqueceu? Grito sufocado não surte efeito. Calma, mais um minuto e te libero. Sai correndo. Escuta mais um pouco, esqueci daquela outra parte que te atormenta. Vai ouvir quando eu quiser e calado. Outro dia. Tá livre. Vai embora. Feche as cortinas quando sair.