sábado, 8 de agosto de 2009

21

Segunda-feira muito quente e nenhum pensamento conseguia ser formado por inteiro na minha cabeça, se conseguisse, não durava mais que uma piscada de olhos. Derretia. Calor nunca foi propício pra nada que envolvesse meu intelecto. Nem meu físico pra ser sincero. Pareço um zumbi, morto-vivo ou equivalentes, quando faz muito calor. Estava quente pra caralho.

Verão pra mim é insuportável e vovó veio de férias. Por tempo indeterminado. Paciência. Papai reclamava muito da presença da sogra. Pra ele a vinda da vovó era pior que o verão pra mim.No começo meu irmão e eu achavamos legal a idéia de ter nossa avó conosco, um tempo depois começamos a nos incomodar. Tadinha. Mamãe dizia que era precisava muito de todos nós.

Ela, vovó, ficava doente sempre. Tinha lapsos de memória. Parecia que ela também tinha a cabeça derretida aos poucos. Ainda assim, naquela altura, nada de tão grave. Aos poucos mamãe foi montando um albúm com legendas logo abaixo das fotos pra vovó lembrar das pessoas da família.

Interessante era a reação de minha avó com a albúm. Morria de ciúmes da sua "memória fotográfica", literalmente falando, e todos os dias após o almoço sentavamos, ela e eu, na varanda para ver e recordar daquela gente toda que eu não conhecia. E nem ela. Santa legenda.

Passando as páginas do albúm, parou em uma e me explicou, num colóquio surreal, quem era o rapaz de camisa bege e olhos claros. Eu fingia cara de curiosidade quando vovó me chamava para ver o albúm, mesmo conhecendo todos os habitantes dele.

Certa tarde, vovó sentada ao meu lado, ficou me olhando fixamente e não sabia quem eu era. Era estranho pra ela. No dia seguinte, a última foto colada no albúm até então, era a minha. O inverno enfim chegou.

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