terça-feira, 4 de maio de 2010

último post





obrigado a todos por acompanharem as grandes aventuras do pequeno irgo, ultimamente chamado de Blog do Igor Vida.

tenho um blog novo, o RVSTD & EDTD (lê-se em inglês Revisited and Edited OU no bom e velho português Revisitado e Editado). No RVSTD & EDTD alguns textos e divagações postadas por mim n'As Grandes Aventuras do Pequeno Irgo serão revistados, editados e postados por mim. Serão retrabalhados, melhorados e até traduzidos - neste caso disponibilizarei as duas versões para leitura, ok?!

sim, na verdade é quase a mesma coisa de um albúm ser relançado como um albúm de remixes - só que com textos. É uma maturidade textual diferente, um momento diferente de criação e claro, preciso de um espaço novo. Como sugere a imagem acima, dimensão diferente...

espero que gostem, em breve estará funcionando e disponibilizarei aqui o endereço!

abraço.

domingo, 11 de abril de 2010

Bebadôs

Planos. Argumentos.
Malas. Bagunças.
Paris.
Desembarque. Hotel.
Tweed e Oxford.
Casaco leve e botas.
Jantar.
Dom Perignon;
Dom Perignon;
Dom Perignon;
Finalmente,
pAris!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

40


ela sempre surgia com seu vestido branco, rodado. Esperava atentamente a confirmação do vôo no  painel  de chegadas e partidas. Ele chegava e dava-lhe um susto, vestido rodava. ela se encantava com as histórias e feitos do amado amante. Ele se encantava com o encantamento por parte dela para coisas corriqueiras à rotina dele.

O andar sem rumo, os olhos perdidos, a leveza do vestido eram contrapostos pela maturidade da pele, segurança do riso, força do abraço, certeza do rumo escolhido. Assim ensolaravam constantemente os finais de semana da cidade acinzentada. Abafavam com risadas todo e qualquer barulho. A luz intensa dos sorrisos desbotavam todas as outras cores ao redor.

Tempo. Tempo. Tempo.

ela surgiu na plataforma vestida da mesma forma inocente. Ele notou algo diferente. Olhar, estranhamento, riso.

Ela agora era dele;
ele, dela.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

39



Resolvemos marcar o tal encontro. Vestido de amarelo eu fui. Cheguei conforme horário combinado, procurei um local agradável naquele parque; lá sentei e esperei. Esperei. 

Meu amor não apareceu. Deitado na grama construindo possibilidades explicativas para o atraso do amor, me peguei fitando alegremente o sol.  Passamos assim toda tarde. O verão todo.

Amantes agora; ele lá, eu cá.

O sol, quente, me beijava.
E eu, fiquei cego de amor.

terça-feira, 23 de março de 2010

38


A filha menos querida, única prestativa sem dramas ou reclamações, ajuda ao pai com sua organização minuciosamente clínica. Todos os finais de semana desde a morte da mãe - Deus a teve - dedica seus préstimos domésticos à casa paterna. É um zelo sem igual.

O velho, um aposentado rabugento, passa mais da metade do seu dia útil sentado numa poltrona de couro marrom, de onde, confortavelmente dita regras para o  andamento (caótico) da casa. A poltrona, presente da filha menos querida em comemoração a aposentadoria do pai, ficou guardada na garagem por quinze anos. O retorno da poltrona a superfície - superfície levando em conta o posicionamento da garagem em relação aos outros dois pavimentos da casa - se deu quando à morte da esposa, o velho precisou de algo igualmente grande, quente e confortável para completar a lacuna que a esposa deixara.

(São quatro filhos ao todo: três mulheres já feitas e um moço ainda em má formação).

No imaginário da vizinhança, constituída de uns tipos interessantemente caricatos, àquele lar é um lar feliz. Quanta imaginação atrapalhada. A casa vive em bagunça e a santa filha menos querida sempre tenta manter a ordem. O pai, ingrato, apenas resmunga; palavras claras e límpidas só são ouvidas quando “nunca atendem um pedido simples” ou “ainda não trouxe meu café”.  Como a esposa deve fazer falta. Embora a coitada deva estar agora, não importa onde, mais tranqüila. Os outros filhos moram na casa paterna e abusam sem dó dos préstimos da irmã. Que santa!

(Tal situação precisa acabar logo. Filha menos querida não merece mais sofrer. Mas, não pensem que algum príncipe irá salvá-la ou algo do gênero. Ser reconhecida como filha redentora, muito menos).

No sábado mais bonito daquele mês, filha menos querida acorda cedo-ainda-escuro, prepara um delicioso café da manhã, medica o pai e com suas prendas domésticas deixa a casa um verdadeiro brinco de diamantes. Em estado bruto. Arruma suas coisas na habitual valise preta e sai com um ar triunfante de dever cumprido.

Filha-menos-querida ir embora para sempre e nunca mais voltar já seria vingança suficiente para aquela família; mas por um descuido ingênuo durante o fazer do café da manhã, o gás ficou ligado. Algumas pessoas (in)felizmente não resistem ao gás butano. Ligado por horas em ambiente fechado sem ventilação pode até fazer mal a saúde.

Um silêncio pacífico e comovido foi promovido. Os cretinos ficaram, finalmente, em convergência.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Trente-sept


Nunca conhecera, até o dia que esbarrou com o moço forasteiro na mercearia, um francês de verdade; talvez os modelos estampados nas propagandas da vogue ou elle seriam. Até o dia em que esbarrou com o moço moreno de olhos azuis na mercearia, não conhecera um francês de verdade. Vira um ou dois filmes do Jeunet, quando na capital, a prima a levara no cinema, mas en personne, não conhecia.

As aulas de francês custam ao pai o equivalente a meio salário pago a empregada doméstica há anos na família. Luxo não é, necessidade sim. Dizer ao pai a intenção de ter aulas com um moço forasteiro tomou-lhe uma semana de preparação e simulação de diálogos possíveis. 

O parisien, agora atração local dos desocupados e curiosos, ganha então uma aluna. Segundas e quintas-feiras, sempre após o ave maria na igreja da praça central, as aulas acontecem, na sala do pequeno apartamento feita em sala de aula. Graciosamente vestida e sempre pontual, acomoda-se numa cadeira , presta atenção em todo e qualquer gesto do professor.

Todas as amigas da mocinha sabem das aulas e à prima da capital, escreve cartas com tentativas audaciosas de escrever frases inteiras em francês. Colônia, não usa mais, nem alfazema carrão, só eau de toilette. E é francês, na mesa, no banho e na cama. Como era gostoso meu francês.

Um dia, melhor amiga diz ficar sabendo, os franceses não se limpam e as moças não depilam as axilas. O velho do armazém espantando diz ao pai da moça, os franceses comem lesmas e possuem hábitos estranhos, deixam um queijo mofar até azular e aí comem. É um horror.

O sotaque engraçado e envolvente sempre faz à moça, cócegas, mesmo quase dois metros de distância um do outro. Suave, suave. Dois meses inteiros até agora, aulas semanais e lábios apertados. O francês se enfadou, resolveu voltar pra casa. Mocinha chorou, chorou, choraria em francês se possível.

Ficou amarga, bruta, áspera, mandona.
Totalitária, inclusive.
Resolveu um dia, incerto, estudar alemão.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

36


É manhã bem cedo, cedo fresco. Uso uma das várias camisetas de super-heróis que tenho, uma bermuda de tecido sintético, pés descalços. A mochila carrega minha sobrevivência de dois dias, fora, meu par de tênis bem gastos, pendurados pelos cadarços. Balançam, parecem se despedir. Estilo despojado me cai bem, mas não estou despojado, acabei de acordar e o caimento não foi propositalmente organizado à parecer despojado. Acabei de acordar.

(Pés descalços não são problema pra mim. São oito passos do carro à porta, quarenta e seis até a padaria e cento e sessenta e oito até a universidade.)

Na tarde anterior algo me consome, sofro. Engasgo. Te amo eu disse também te amo ouço de volta. Encontramos um ao outro várias vezes no mesmo dia, na mesma casa. Por um dia de quarenta e oito horas. Esbarro, me carrega, roda, me diz te amo, de novo, de novo. Meu medo se verte em água, salgada.

(Raramente tenho medo, quando tenho, choro.)

Eu disse que amo muito, me disse o medo é do bom acabar e, e naquele momento chorava por uma perda, me disse, não iria acontecer. Choro agora, digo eu, choro e tenho medo. Choro igual menino. Me abraça, diz que fica bem. Acredito. Acordamos cedo, bem cedo. Tomamos café, mala pronta desde ontem, ontem antes do banho, não o meu. Acordamos de novo na mesa do café. Um abraço. Com força leve. Vestimos roupas.

O mar então secou. Ri, riu, rimos. Remos. Partimos.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

35



Uma máquina de cola quente talvez pudesse resolver essas querelas que me atormentam. Te colaria numa cadeira e faria coisas não ortodoxas com você. Te contaria toda a minha vida, atuando, fazendo drama, adaptando, incluindo você me cada parágrafo. Colando você à ela, minha vida. Falaria do meu mundo, do meu submundo e de como você é importante nisso, nesse meio termo, nesse entremundos. Escuta! Ainda estou falando.

Cola quente não parece suficiente então. Quero uma fita adesiva bem poderosa, para colar seus lábios. Assim você só escuta, todas as minhas desventuras, aventuras, loucuras e outras coisas aumentadas por mim com o intuito de atormentar você. Me ouve. Não me olha nos olhos. Só me veja atuando, passando para lá e para cá na frente da sua cadeira. Entendeu? Vou falar mais alto. Entendeu agora?

Não se faça de vítima. Vítima sou eu. Continuo meu ato, matando o meu eu em cada cena nova. E você assustado não crê. Crê na loucura que eu faço. Mas não crê em mim. É tudo verdade, não tá vendo? Você me deixa louco, nunca prendi ninguém assim. Não me atormente. É a minha natureza, não sou humano. Sou a personificação de tudo o que você queria. E agora que não quer mais, vai me ouvir.

Gritar como? Está atado esqueceu? Grito sufocado não surte efeito. Calma, mais um minuto e te libero. Sai correndo. Escuta mais um pouco, esqueci daquela outra parte que te atormenta. Vai ouvir quando eu quiser e calado. Outro dia. Tá livre. Vai embora. Feche as cortinas quando sair.